sábado, 12 de junho de 2010

Ba(p)tismo

Entrego os meus pés à areia. Dispo-me por completo e a lua compreensiva oferece-me a luz que me inteira. Dispo-me, devagar. Não tenho pressa, como o tempo não a tem. Caminho displicente e meiga. E abraço o Mar! Mais poderoso, muito mais poderoso, acolhe-me. Baptizo-me. E renasço. Em cada movimento do mar. Com a entrega, poder e mestria da pureza que tem e que é. Nado sem parar! Respiro. Oro. Escuto inadvertivamente o silêncio que toco. Percebo que é macio, doce, pintado de um azul que só eu sei. Então, olho para trás. Vejo a esvairem-se pedaços de pele. Pedaços de mente incontrolável. Pedaços de passado. Pedaços de inquietação. Estremeço. Um arrepio de chuva morna a cair. Um sabor de algas e sargaço. O Mar oferenda-me um copo magnífico de vinho. Inebria-me. Aconchega-me e... Põe-me a descoberto!!! Senti medo, senti vergonha, senti... Mas... Não! Foi a mente enganadora. O ego que prevaleceu por pouco tempo. O Mar desfez em pedaços melodiosos o que ficou para trás! Estou despida e sou feliz! Renasci. Afinal, por que renasci? Foi pelo Mar? Talvez. Mas sobretudo, foi no meio do silêncio, vestida de água salgada, o meu desejo inabalável de ir... E quando me deixei ir... saí lentamente da água, e percebi que quando queremos, renascemos ao sabor do Universo e na vontade intrínseca de viver! Nesta noite, não sequei o meu corpo. Cada poro, cheirava a sal e a horizontes longinquamente perto. Deitei-me na areia e agradeci. Tudo! Renascer não é voltar ao ventre da mãe. Renascer é querer, pedir ajuda e galgar os caminhos distintos da vida. Eu despi-me. E continuo. Nesta noite, sussurei ao vento palavras que ninguém me ensinou. Soprei bolas de sabão. Dancei com todos os sentidos. Falei, escutei, amei... Calei... Não, por acaso não estava sozinha. Quem observou o meu renascer, não teceu comentários, não julgou, não criticou... Deixou-me estar, porque sabia que para ir despida ter com ele, eu teria que passar pela metamorfose das águas do Mar... Agora, molhada, eu, de sal, escutamos... Sabem o quê? O que bem nos apetecer! Aos meus amigos, aqueles que me sabem e que me estimam com o coração.

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