quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ouvir ou Escutar?

Já vos aconteceu ter um dia com tanto para contar e não querer falar sobre isso? A mim, acontece com frequência. E isso complica-me. Encontro pessoas que têm sempre tanto para contar... E eu que penso que tenho mais para contar... não conto. E parece-me que há um vazio. Tenho o dom da palavra, falo com muita e distinta gente, mas... deixo os outros contar. Porquê? Aborrecer-me-ão os pormenores de conversas? Pensarei eu que não é importante o que digo? Mas se foi mesmo importante... Sabem o que penso? Honestamente, há pessoas que não me deixam contar. E sabem o porquê desta conclusão? Porque com outras pessoas eu não só conto, como reconto, como comento, como divago, como questiono... O segredo está mais no ouvinte do que no contador. Por acaso, hoje contei tudo. Porquê? Porque há quem queira realmente escutar o que conto. Então, seja de manhã, à tarde ou à noite ou madrugada (apesar do meu ser coruja) conto a quem me quer ouvir. Parece-vos lógico de mais? Pois não é. Há dias para tudo. Mas, por favor, escutem os outros com pleno coração! Ouvir não é escutar, assim como mexer-se não é dançar, ou assim como comer não é saborear. Hoje contei tudo! Tudo o que tinha para contar. Estou grata.

Sensações

Havia no ar o cheiro de momentos,o sabor de contratempos, o murmurar de espigas queimadas pelo sol.
Todas os dias eram vividos como sereia no mar, esfera brilhante, diamante em bruto, menina de tranças. Escolhia uma estrela que repousava no aquém. Tinha a certeza do cheiro inebriante das flores que nasciam da terra macia que exalava vida. Era o refúgio dos heróis,a âncora cuja corda bailava ao sabor das marés.
E sussurrava de mansinho a música... A música... Aquela música.
Procura-se tudo no Todo. Procura-se uma lógica, procura-se um sentido. Onde está ele? No cheiro do meu café,no toque dos meus lençóis, no respirar distraído, no aconchego que tarda, nos meus dedos a sentir os alimentos coloridos. Não sei nada, mas sinto tudo, até o que é demais. E pior do que sentir tudo, é não sentir nada.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Fugas de gás?

Admiro a beleza das coisas. Se soubessem como me arrepio com seres que ensino... Eles ensinam-me a mim. Pasmo diante das palavras quentes e cheias. Não corrijo, não julgo os códigos literários. Eles escrevem e libertam-se. São adolescentes. Estão à procura. Eu... estou ávida deles, porque os adultos, não percebem que a alma humana não tem idade. Tenho alunos fantásticos! A sua voz, o seu timbre, os seus estares e os seus "sem estar" é o que me vai preenchendo. Um dia destes vou com eles para um lugar que ainda não pensei... Mas vou. Quero mostrar-lhes o que ainda não consegui mostrar.
Bom, tudo isto para dizer que hi5s e facebooks são vistos por eles como ... nada. Miúdos. Jovens. Loucos. Ávidos. Nem vou pedir desculpa a ninguém...
Se soubessem o que é sentir nos dias de trabalho, quando apetece apenas "fugir" deixar que me levem no vento... Se soubessem, o que se sente quando se comunica com carinhas de leveza, dor, paz, prazer... "Há sempre alguém que nos diz tem cuidado/ Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco/ Há sempre alguém que nos faz falta...". Às vezes queria ficar eternamente a escutar...
Os adultos são TÃO complicados... Lêem livros, reportagens, ensaios, notícias. Frequentaram a Escola, mas ela não os satisfez. E depois falam muito, criam afectação na voz, erguem-se no pedestal que acham que conquistaram. Que pena... Mais forte que as palavras, que a música, não há nada!
Bebem-se copos, fala-se de trabalho, dos filhos, dos cônjuges, das frustrações... Aprendam com eles! Eu aprendo e cresço. E aquela música já não é a mesma, aquele fado morreu, aquela banalidade exorcizou-se.
Os amigos... Que dizer? Tantas voltas dou na minha cabeça, tantas decepções... Mas tantas belas surpresas!
No sorriso das palavras que amo, tento encontrar a FORÇA.
Há coisas inexplicáveis!...
Orgulho-me de ver Humanismo nestes "meninos" e "meninas" que ao sabor da riqueza do conhecimento estão tão mais além!
Quero fazer uma pergunta: por que criticam os jovens quando os morangos desaçucarados e as novelas banais imperam??? Por que os criticam quando os devem guiar??? Por que se "riem" das paixões que eles tentam, tentam e tentam mostrar-vos???
Ah... Quem me dera poder ter feito parte ou fazer parte da reconstrução do mundo. "Sexo, drogas e rock'n roll". Garanto-vos que os anos 60(de que sou fã, apesar de não os ter vivido) foi o êxtase da alma, mas foi fuga da realidade.
Se eu puder, vou estar para eles, vou estar com eles, na geração que é frágil porque é humana, mas que vive alerta, com toda a legria e dor inerente ao ser humano.
Da história da minha vida fazem parte - e aparte avaliações e competições e contradições - os meus alunos... Aprendam com eles. São vossos filhos, sobrinhos, sei lá... Na história da minha vida, tenho heróis de carne e osso, plenos de tesouros... Por favor, olhem o que estão a fazer!
Depois castigam-nos porque começaram a fumar, a beber... A culpa é NOSSA! Ponto final.
O sexo são afectos, as drogas são a consciência de que o ser humano sofre e maravilha-se todos os dias e aceita isso. O rock'n roll é todo e cada gesto, todo e qualquer reflexo do corpo e da alma que vibra para ser MAIOR!
Quando os "adultos" me mostrarem que são humanos, eu vou "suportar" que julguem, que não entendam o que escrevi!
Eu, quando puder, e no fundo sempre que posso, saio daqui.
Este post dedico à Júlia, à Isabel, ao Joaquim à Lúcia ao Almeno, à minha Marta e ao meu Eduardo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um dia escreverei a história que é a minha vida

Comecei a sentir que tinha que haver outras pessoas, as que me tirassem dali. Tímida e pequenita, embrulhei-lhe nos lençõis que tinha à mão. Nem podia criar sonhos, nem nada. Entreguei-me de qualquer forma. Brinquei, imitei, esperei, procurei, desesperei. Escondi-me, observando-os. Tão grandes, tão maiores, tão deuses intocáveis para mim. Partiram e já não pude brincar, imitar, esperar, procurar... Apenas desesperar...
Que poderia eu ter, então? Nada. Para mim, nada. Perdi-os e foi o começo do medo infinito.
Por que não me agarrei a outras amarras? Por que não sabia eu que eram amarras? Só mais tarde, quando alguém olhou para mim. Quando alguém me recebeu, a mim. Amarras. E amarrei-me outra vez... De porto em porto, de olhares no espelho de águas turvas, em que nunca me conheci. Nunca soube, ainda não sei porque há barcos à deriva, porque há ventos que brincam, pois sabem que... Não há amarras. Porque não pode haver. Mas eu não sabia. Será que já sei?
Não pode haver amarras. Tem que haver mãos para amarrar a corda com segurança. Digam isto a quem ainda não sabe navegar. E expliquem que se o solo nos foge debaixo dos pés, a culpa não é nossa. A culpa não é nossa.
Sentada à sombra dos outros, queria tanto que me tivessem dado a mão e que me tivessem mostrado e dito que o sol nascia por e para mim. E que eu era o sol...

Le Petit Prince

Como mulher, passei por histórias que a maioria dos seres com que me cruzo consideram, hum... treta. Sim. Não tenho quaisquer dúvidas.  P...