quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um dia escreverei a história que é a minha vida

Comecei a sentir que tinha que haver outras pessoas, as que me tirassem dali. Tímida e pequenita, embrulhei-lhe nos lençõis que tinha à mão. Nem podia criar sonhos, nem nada. Entreguei-me de qualquer forma. Brinquei, imitei, esperei, procurei, desesperei. Escondi-me, observando-os. Tão grandes, tão maiores, tão deuses intocáveis para mim. Partiram e já não pude brincar, imitar, esperar, procurar... Apenas desesperar...
Que poderia eu ter, então? Nada. Para mim, nada. Perdi-os e foi o começo do medo infinito.
Por que não me agarrei a outras amarras? Por que não sabia eu que eram amarras? Só mais tarde, quando alguém olhou para mim. Quando alguém me recebeu, a mim. Amarras. E amarrei-me outra vez... De porto em porto, de olhares no espelho de águas turvas, em que nunca me conheci. Nunca soube, ainda não sei porque há barcos à deriva, porque há ventos que brincam, pois sabem que... Não há amarras. Porque não pode haver. Mas eu não sabia. Será que já sei?
Não pode haver amarras. Tem que haver mãos para amarrar a corda com segurança. Digam isto a quem ainda não sabe navegar. E expliquem que se o solo nos foge debaixo dos pés, a culpa não é nossa. A culpa não é nossa.
Sentada à sombra dos outros, queria tanto que me tivessem dado a mão e que me tivessem mostrado e dito que o sol nascia por e para mim. E que eu era o sol...

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